Em resposta a reportagem “Brasil registra um aumento de 775% no consumo de Ritalina em dez anos”, publicada no Jornal O Estado de São Paulo, ontem (11), o médico psiquiatra Marcelo Calcagno Reinhardt escreve para ampliar o debate e aprofundar a questão.

O profissional chama atenção para o número mais importante da notícia: um estudo, mencionado pelo presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria, Antônio Geraldo, mostra que menos de 20% das pessoas com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) são tratadas no Brasil. “Isto significa que apesar do grande aumento no consumo da Ritalina – talvez a medicação mais conhecida no tratamento do TDAH, até porque tem quase 60 anos no mercado mundial – pouquíssimas pessoas com transtorno são tratadas”, explica Reinhardt. 

“O aumento, na verdade, teria que ser bem maior que 775% se considerarmos que menos de um quinto da população com TDAH é tratada. E ainda enfrentamos diagnósticos mal conduzidos e pessoas que utilizam a medicação para fins diferentes do tratamento determinado”, pontuou. Sem esquecer, claro, que este cuidado com o diagnóstico correto deve ocorrer com qualquer tipo de doença: hipertensão, diabetes ou qualquer infecção bacteriana, por exemplo.

Também, para Reinhardt, mais importante do que chamar a atenção para o aumento da comercialização da substância é importante, também, reconhecer que as pessoas que realmente precisam de tratamento para o TDAH são beneficiadas pela Ritalina, não apenas pela eficácia, mas também pelo perfil seguro de efeitos colaterais.

Não se pode ignorar que o uso inadequado de uma medicação pode trazer grandes problemas, independente de ser “traja preta”, como a Ritalina, ou “tarja vermelha” como muitas outras. “Na verdade, medicações compradas sem receita médica, inclusive vendidas no balcão das farmácias para tratamento de sintomas apenas, podem trazer mais danos à saúde do que a Ritalina, o Concerta (mesmo princípio ativo que o da Ritalina) ou o Venvanse (outra medicação para tratamento do TDAH)”, justifica.

Não se pode esquecer, de acordo com ele, que “uma questão bastante relevante é procurar se informar sobre o assunto e encontrar profissionais que tenham as credenciais as necessárias para auxiliá-lo”. Por isso, em Florianópolis a ABDA coordena um núcleo de apoio para familiares e portadores de TDAH, com reuniões mensais para debates e esclarecimentos sobre o tema. As inscrições são gratuitas e estão disponíveis no site: www.tdah.org.br. 

A matéria também foi publicada no portal do jornal Diário Catarinense, com o título “Consumo de Ritalina no Brasil cresce 775% em dez anos“.

 

* Matéria publicada originalmente no site da ACP – Associação catarinense de Psiquiatria

 

Currículo – Marcelo Calcagno Reinhardt é médico psiquiatra, especialista em Psiquiatria da Infância e Adolescência e mestre em Psiquiatria (dissertação em TDAH). Atualmente é membro da Diretoria da Associação Brasileira de Neurologia, Psiquiatria Infantil e Profissões Afins de Santa Catarina (ABENEPI-SC), da Diretoria do Departamento de Psiquiatria da Infância e Adolescência da Associação Catarinense de Psiquiatria (ACP), do Conselho Científico da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) e coordenador do Núcleo ABDA em Santa Catarina.