CONGRESSO DEBATE DÉFICIT DE ATENÇÃO

Diagnóstico precoce evita que doença seja mal interpretada

Embora o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) tenha sido descrito pela primeira vez em 1859, e o diagnóstico e tratamento de crianças consideradas hiperativas venham sendo aprimorados no decorrer do tempo, somente em 1980 a incidência do transtorno em adultos foi oficialmente reconhecida pela Associação Psiquiátrica Americana.

Desde então, adultos saudáveis, e até bem-sucedidos, do mundo inteiro têm procurado especialistas, em busca de soluções para os sintomas que os acompanham desde a infância. “Cerca de 60% das crianças que sofrem com o transtorno carregam os sintomas por toda a vida. Por isso, o tratamento deve ser continuado”, informou o presidente da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA) Paulo Mattos, durante o Congresso Internacional da ABDA, realizado na semana passada, em Salvador.

Os sintomas que caracterizam o TDAH em adultos são basicamente os mesmos que acometem crianças. “Grande dificuldade de concentração, impulsividade e agitação excessiva são as principais características do transtorno”, esclarece o professor de Psiquiatria da infância e adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS), Luiz Rohde.

Ele afirma que o diagnóstico tardio pode disfarçar os sintomas, muitas vezes confundidos com desorganização, instabilidade de humor, dificuldades no campo profissional, abuso de substâncias químicas e outros desajustes psicológicos. “Não há TDAH que comece na idade adulta. O diagnóstico precoce é que pode evitar conseqüências mais complexas”, afirma.

Segundo o neurologista Wellington Leite, os sintomas são reformulados em comparação ao quadro clínico das crianças para melhor exemplificar o acometimento em adultos. “Algumas características podem revelar o transtorno na fase adulta, como não ficar sentado, quando essa é a reação esperada, não se deter em detalhes e cometer erros por falta de cuidado no trabalho ou não seguir comandos e deixar as atividades inacabadas.”

Os especialistas ressaltam que esses comportamentos podem ser apenas reflexos de personalidade e que as atitudes, associadas a outros sintomas, somente caracterizam TDAH, quando causam prejuízos significativos na vida acadêmica, profissional e pessoal dos portadores. “Apesar de inteligente e criativo, o portador de TDAH quase sempre tem desempenho bem inferior à sua capacidade intelectual”, destaca Luiz Rohde.

Adaptação

Depois de enfrentar as dificuldades de adaptação do filho de 11 anos, que repetiu uma série na escola e já mudou seis vezes de colégio, a recepcionista Alessandra Blaya, de 33, procurou vários médicos, até que obteve o diagnóstico, há dois anos. “Ficou comprovado que nós dois temos TDAH”, revela. Ela afirma que quase todos os sintomas identificados no filho são os mesmos que sentiu durante toda a vida. “Eu sempre tive que fazer grande esforço para ser igual aos outros”, resume. “Não conseguia me adaptar e, ao contrário dele, que é hiperativo, sempre fui muito avoada.”

Em geral, as mulheres que sofrem de TDAH são mais desatentas, enquanto os homens são hiperativos, segundo Wellington Leite. Ele afirma que os sintomas podem ocorrer simultaneamente com outras doenças ou estressores ambientais. “Por isso, os adultos não devem se autodiagnosticar, mas procurar um psiquiatra ou neurologista para fazer uma avaliação adequada dos sintomas e orientar o tratamento, baseado em medicação e acompanhamento psicossocial “, alerta.

Gisele Araújo

Jornal Estado de Minas