À Associação Brasileira de Déficit de Atenção, Caríssima Iane Kestelman, Eu me emociono todas as vezes que ouço ou vejo o seu depoimento nos mais diversos meios de comunicação. Assim como vocês, eu e meu marido vivenciamos uma verdadeira via crucis para chegarmos ao diagnóstico de TDAH do nosso pequeno Henrique. O nosso filho, hoje com quase oito anos, sempre foi uma criança irrequieta, agitada, ativa. Não conseguia se concentrar por muito tempo nas atividades que exigiam mais concentração, era muito impulsivo, enérgico. Com o tempo, e, em cotejo com o comportamento de outras crianças da escola, percebíamos algo diferente naquele comportamento agitado e desatento. Falávamos com o pediatra, com a psicológa da Escola, com os familiares e todos diziam para termos calma, pois era uma questão de amadurecimento. Aos quatro anos, decidimos levá-lo a uma neuropediatra em Recife – uma das mais conceituadas – que nos disse que era muito cedo para se fazer um diagnóstico e que deveríamos aguardar. E assim começou a nossa peregrinação. Ao todo, entre fonoaudióloga, psicólogas, psicopedagogas, neuropediatras e psiquiatras passamos por mais de 10 profissionais! E posso lhe afirmar, com a maior tranquilidade de quem vivenciou tudo isso, que nem todos estão informados e preparados para lidar com crianças com TDAH. Ouvíamos coisas do tipo “vocês devem diminuir a ansiedade de vocês”, “controlar o narcisismo de vocês”, “Henrique está assim porque precisa de limites”, “ele precisa ter um irmão” e por aí vai …. No início do ano da alfabetização, as coisas pioraram muito. A escola começou a cobrar resultados, e as dificuldades que ele apresentava desde o jardim da infância foram interferindo em seu aprendizado. Decidimos lutar pelo nosso filho, um menino maravilhoso, afetuoso, inteligente, capaz, comunicativo, entre milhares de outros predicados. Não poderíamos nos resignar e abaixar a nossa cabeça. Com muita informação, e após o diagnóstico de TDAH combinado com discalculia e disgrafia, iniciamos o tratamento com a medicação e com o acompanhamento de uma equipe multidisciplinar. Felizmente, há uns três meses atrás o nosso filho iniciou um tratamento medicamentoso com uma Neuropediatra que nos passou muita confiança, nos indicou a necessidade de iniciarmos a terapia ocupacional, além do acompanhamento de uma psicopedagoga e do reforço escolar. Mais ainda há muito a percorrer. Percebo muita desinformação nas Escolas, principalmente na forma de lidar com essas crianças. Os professores não estão plenamente informados sobre o que essas crianças podem ou não podem fazer, e o que ocasiona referido comportamento. No caso de Henrique, por exemplo, fomos orientados a mudá-lo de turma na Escola, turma esta que ele estudava desde os dois anos de idade, porque era um grupo muito agitado e que o agitaria mais ainda. Assim, pela dificuldade neurobiológica do meu filho (que continuou persistindo na sala tida como “calma”) ele foi retirado do grupo em que ele já estava socializado. A Escola tem que perceber que exerce um papel fundamental seja no fracasso ou no êxito dessas crianças, e o professor está literalmente na linha de frente. Professores bem informados, treinados e apoiados pela equipe pedagógica da escola (digo, psicólogos, psicopedagogos, coordenadores e diretores) podem e devem fazer a diferença. Nós acreditamos na possibilidade de crescimento do nosso filho, mas entendemos que é um processo que se faz em equipe. Essencial que em seu caminho se apresentem profissionais engajados, instruídos e motivados. Com certeza, ele tem em casa pais presentes, conscientes e participativos e que o amam profundamente. Finalizo com uma mensagem aos pais que enfrentam semelhante situação: nunca deixem de acreditar nos seus filhos e em sua capacidade de superação. O amor e a informação nos impulsionam ao sucesso. Com fé em Deus, seguiremos o nosso caminho com mais leveza e alegria. Camila Calheiros,