Como uma pessoa com Deficit de Atenção trabalha num banco? Sofrendo! Esta é a melhor resposta, e a que melhor define minha vida profissional nesses últimos anos. Tenho, porém que reconhecer: não fosse meu trabalho como bancária, não teria sido diagnosticada como portadora de TDAH. E isso veio com sofrimento, muito sofrimento! Sentimento de inadequação, baixa auto-estima por não conseguir o que é esperado de todo bom profissional: eficiência, quase como uma maquina, em meio a metas e números, e papeis e contratos, e datas, e agendas e relatórios, e dinheiro com data, com agenda, com meta e com…falhas. Um dia fui chamada á mesa do gerente: não conseguia terminar a tempo a tarefa que me fora atribuída – simplesmente me perdia no tempo, em meio a tudo aquilo e, quanto mais pressão, pior ficava – como podia explicar algo que nem eu mesma entendia? Afinal, não sou uma pessoa burra, pensava, passei em concursos, como não consigo fazer isso? Um trabalho tão simples? Mas a tempo fui salva pela observação de alguém que me conhece como poucos: minha irmã mais velha, psicóloga que, ao ouvir minhas queixas, me alertou sobre a possibilidade de eu ter deficit de atenção e me recomendou muitos artigos sobre o tema. Obviamente que os devorei e, para minha surpresa, me encontrei, desde a infância naquelas páginas que descreviam as características de alguém com deficit de atenção. Estava tudo lá: os devaneios, a desatenção, a cabeça no mundo da lua, a impulsividade, as pernas inquietas, o pensamento inquieto, acelerado, o perder datas, coisas, esquecer datas, coisas e o sofrer com tudo isso. Marquei então uma consulta com o psiquiatra que, ao ouvir minha historia de vida e minhas queixas, confirmou o que eu então havia descoberto, realmente era uma pessoa com deficit de atenção. Imediatamente iniciei com a medicação, Uau! Que mudança! Me senti muito melhor, até as pessoas que trabalhavam comigo perceberam a mudança, estava muito mais concentrada, menos atrapalhada, mais eficiente. Claro, nem tudo foi resolvido com um remédio! A consciência do problema nos faz mais atentos e precavidos sobre certas circunstâncias que devem ser evitadas ou outra forma de fazer com que as coisas dêem certo, mais cuidadosos, enfim, para evitarmos os possíveis e previsíveis desastres.. Enfim, este é apenas um pequeno relato, uma \”fresta\” do que foi e tem sido minha vida de portadora de um \”transtorno\” – um excelente termo pra isso – de Deficit de Atenção. Infelizmente não há como se livrar disso, precisamos aprender a conviver, a superar os desafios e evitar os danos que podem ser causados por ele. Hoje mesmo tive uma surpresa desagradável: fui chamada à mesa do gerente, havia deixado de fazer algo que me fora atribuído. Simplesmente esqueci pois, neste meio tempo, me pediram para procurar nos arquivos um documento extraviado. Fiquei surpresa por ter sido pega, outra vez numa armadilha do TDAH. É como se ele, de quando em quando, me cutucasse dizendo: ei, eu ainda estou aqui, viu? Sim, eu sei que estará aí pra sempre e tenho que cuidar pra, pelo menos disso, nunca me esquecer! Claudia Stella de Resende Bär.