Chamou-me João, a cerca de três anos ouvi pela primeira vez o termo TDAH, ouvi ele da boca de um psiquiatra que havia procurado por uma depressão que anunciava chegar. A depressão era uma velha conhecida que de tempos em tempos aparecia para me fazer companhia. Como é de minha natureza, mergulhei na pesquisa do que era aquelas quatro letrinhas e descobri que tinha tantos nomes esse transtorno quanto eram o estrago que fazem na vida de uma pessoa. Virei um autodidata, li tudo, fui para um congresso da ABDA, participei de grupos de apoio, interagi com portadores, com familiares, com gente que de alguma forma teve sua vida contactada por esse transtorno. Pedi socorro a todos quando olhei para minha vida regressa e comecei a entender o que essa coisa tinha feito na minha vida. Era como um mistério que demorou muito tempo para ser desvendado. Os estragos foram e são tão grandes que assusto-me com a possibilidade de que eles tenham de tal jeito colado em mim que não possa saber o que é ter uma vida sem ele. Perdi pouca coisa se avaliar o agora, se mudar o ponto de observação a coisa muda de figura; perdi minha vida. Não construí nada e destruí tudo. Uma hora achei que era melhor parar com tudo, tentei o suicídio, acontece que Deus não aceitou minha decisão (para os que são ateus, então o meu organismo reagiu ao meu ataque)e não havia outra opção que não viver. E se tinha que viver, me engajei na vida, saí de Recife (minha cidade natal), transformei-me em orfão de pais vivos (para eles eu sou um farsante irresponsável), acabei um relacionamento de uma mulher que amava (era um fardo muito pesado para o amor que ela tinha), os amigos se distanciaram (é verdade que alguns não só ficaram como me ajudam), perdi minhas referências, minhas raízes e me mudei para bem longe, onde tento aos 50 anos começar uma vida. Faço uso de medicamentos (acredito neles porque sei que tenho uma má formação neurobiológica), sou assistido por uma psicóloga e uma psiquiatra. Faço parte de grupos de discussão sobre o assunto, sou afiliado a muitas entidades sérias no Brasil e no exterior (sim, existem um bocado de porcaria neste caminho, a internet tá cheia), não levanto bandeiras mas não as deixo jogarem no chão. Esse transtorno existe e qualquer um que diga o oposto, eu desejo do fundo do meu coração que eles possam um dia se deparar com essa situação e, quem sabe, se transformem em seres melhores.