Sou psicopedagoga e leciono na rede pública de ensino, meu trabalho é direcionado as práticas de alfabetização no ensino regular. Minha história não terá presença afirmada do diagnóstico TDAH, mas vou expor a minha experiência docente. Um dos meus alunos deste ano me chamou atenção quanto a dificuldade para finalização das atividades. No inicio me parecia muito atento, pela postura, olhar e responsabilidade. No final daqueles dias observei que não concluía as atividades propostas, ele então se mostrava muito preocupado e queria fazer tudo na mesma hora. Quero antes ressaltar que as atividades incluíam jogos com propostas desafiantes para os níveis de cada um, envolvendo calculo e compreensão do sistema de escrita. Enfim, na mesma semana os pais e outros membros da família deste aluno estiveram presentes, porém, de maneira negativa. Dois de seus primos, alunos na mesma escola em série distinta, iam buscá-lo e me questionavam: \”Professora, o D\’ fez tudo hoje?\”. Eu realmente não sabia o que dizer naquele momento, e disse que naquele dia houve alguns imprevistos, \’probleminhas\’, e que nem todos conseguiram concluir as atividades e que teriam a oportunidade de finalizá-las no dia seguinte. Isso me deixou extremamente preocupada, havia um hábito de cobrança muito forte vindo da família. Decidi procurar mais informações no histórico do aluno e descobri que havia mais cobrança por parte da escola no ano letivo anterior, principalmente com as atividades escritas na lousa. Procurei minha coordenadora para informá-la e me deu apoio para conversar com os pais. Foi uma situação delicada em que me vi diante de duas pessoas muito comprometidas com seus filhos, mas ao mesmo tempo carentes de informação sobre as necessidades do filho, meu aluno. Minha preocupação maior era a de retirar aquele \’peso\’ colocado na rotina da criança, o primeiro passo foi aliviá-los do pensamento do \’não saber o que fazer\’. O segundo foi modificar a pergunta dos primos. Disse a eles que seria melhor se me perguntassem sobre o que D\’ fez de bom naquele dia. Tenho certeza da capacidade e aquilo que ele conseguiu concluir foi uma conquista independente de ter sido 1 ou 3 atividades. Ele tinha o seu tempo, nós precisavamos respeitá-lo. Outro passo foi fazer encaminhamento para profissionais que pudessem diagnosticar as causas da desatenção, mas infelizmente o sistema é lento e os profissionais nem sempre colaboram. No final de tudo, ele está bem e alfabetizado. Alterei a rotina da sala para que estivesse de acordo com a necessidades de todos, sempre tinha um tempo para relaxar (ler, desenhar, brincar com massinha, jogos, etc), assim teria tempo para todos concluírem os objetivos propostos para aquele dia. Houve dias em que a derrota ficou estampada no rosto daquele menino, eu dizia que não podia desistir mesmo que fosse difícil e levasse tempo. Acreditei e o fiz crer na capacidade de seguir em busca da conquista, esses dias foram os melhores. A cada atividade concluída havia naquele ser olhos de esperança e de confiança, era mais uma nova vida, novo jeito de viver. Não era punido, não o fazia se sentir culpado. Eu aprendi ao mesmo tempo que ensinei…