Eu sou a Marisa, tenho 50 anos e uma longa história de alguém distraída, inquieta e que quando está nervosa não consegue fazer mais nada certo, simplesmente não vejo mais nada, nem consigo ler.Minha mãe conta que quando era pequena dava muito trabalho, não parava nem pra dormir, me deixava no berço rasgando papel até cansar e dormir. Na escola fui bem marcada por não ser igual aos outros alunos, não conseguia ficar sentada na carteira por muito tempo, a minha atenção era bem curta, tinha muita dificuldade com decorebas… Na primeira série tinha uma professora que pedia para lermos o caderno, quando não a conseguíamos enfiava nosso rosto no caderno e gritava como uma louca, ai minha mãe resolveu me colocar com uma professora particular, Dona Gertrudes, ela me batia toda vez que eu não conseguia ler algo que ela mandava, depois de um tempo, meu pai viu uma mancha escura no meu pescoço, contei para ele o que acontecia, ele não teve dúvidas, foi "acertar contas" com a tal da Dona Gertrudes… Na terceira série, como eu continuava no "mundo da Lua e sem parada", tinha "bicho carpinteiro", minha mãe e suas conselheiras da escola, acharam por bem me colocar de manhã na terceira série da escola particular e a tarde na terceira série da escola pública. Foi ai que aprendi a pular janelas e burlar regras, precisava sobreviver. Minha professora da escola particular me trancava na sala de aula para decorar a tabuada, enquanto os outros alunos saiam para o recreio. Na segunda semana comecei a pular janela, ir para o recreio escondida e quando o sinal soava eu despulava a janela e ficava quieta esperando a fila dos meus colegas de sala chegar… No ano seguinte entendeu que não daria resultado a estratégia adotada. Continuei na escola pública, me destaquei nos esportes e em segredo descobri o gosto pela matemática ( adorava a professora, ela me explicava com calma e apoiava sempre). No Ensino Médio continuei uma ótima atleta, trabalhava em todos os eventos que a escola organizava e no 3 ano do Ensino Médio tive a felicidade de poder estudar numa escola onde os professores eram verdadeiros artistas e as aulas eram show, super animadas. Eu tinha prazer de ir a essa escola, prestei vestibular e pasmem… a criança incapaz lá de trás fez USP. Desenvolvi muitas estratégias em minha vida, que uso até hoje, não consegui ficar longe da escola, trabalho com educação especial e procuro fazer com que outras pessoas não tenham a péssima experiência que tive. Sou diferente das outras pessoas, eu sou melhor em tudo que elejo como importante em minha vida, o TDAH ainda convive comigo, mas resolvi dar mais importância as minhas possibilidades, quando fico muito agitada, saio dou uma volta acalmo,ainda faço muita atividade ao mesmo tempo, estou tutorando um curso- ead, trabalho 40 horas e sou cursista em outro curso, no final de semana, ando de caiaque, único esporte que me acalma e dá equilíbrio, prazer em conhecer, essa sou eu.