Estou em tratamento com remédio e terapia. Fui a aluna complicada que deixava os professores desesperados e meus pais participantes assíduos da escola. Sem saber o que havia comigo ninguém me controlava porque eu estava no controle. Achando tudo na minha vida muito chato tomei uma decisão: estudaria por conta própria sobre o que deveria saber na escola e na convivência social por conta própria, porque o que me falavam na escola era incompreensível. Era impossível ficar sentada e calada por tanto tempo ouvindo incoerências científicas. Assim fiz duas faculdades, pós em planejamento educacional, mestrado em educação e sou professora de séries iniciais do ensino básico há 25 anos. Na escola encontrei muitos como eu e tomei a decisão de fazer por eles o que não haviam feito por mim. Conheci a dor e a delícia de conviver com quem nunca me achou normal como professora e aluna. Descobri formas alternativas (como escrever aos poucos no quadro ou colorir parágrafos para que meus outros \”eus\” conseguissem copiar sem pular linhas. Tudo faço primeiro no concreto, depois no caderno ou no computador. Conheço meus alunos sem distinção o melhor que posso e parto de seus desejos para produzir formas curtas e rápidas do conteúdo mínimo obrigatório. Entre cada um dos estudos um bom alongamento, uma troca de lugar com um colega ou beber um pouco de água evita o tédio. Ensino a separar enunciados de problemas de matemática e de provas misteriosas por partes antes de responder. Os que não seguram a hiperatividade podem, a meu pedido buscar algo escondido por mim em algum local da escola no menor tempo possível antes de iniciar a atividade. Por isso e muito mais não sou bem vista na maior parte das escolas da rede municipal. Sou vista como louca e exigente. Mas… meus alunos aprendem. Sou reconhecida como boa professora, mas que não admito muitas falhas no horário, na escola só falo de trabalho e minha impulsividade é vista como um perigo a ser evitado. Muitas vezes sou comparada com meus alunos. Aliás, colocam os alunos que acham parecidos comigo na minha sala porque só eu resolvo. Minha filha estuda na mesma escola em que trabalho e foi diagnosticada agora aos 10 anos. Sofri por ela ter que passar por isso tudo, mas agora conversamos sobre nossa diferença e ela vem se saindo melhor em tudo. A escola dizia que ela me imitava, mas depois que consegui instrumentalizar a escola a respeito do TDAH com o matéria que copiei do site da associação tenho encontrado muitos pares entre pais e professores. Uma faculdade de medicina local está fazendo um estudo sobre TDAH em crianças da escola e vai conversar melhor com os professores. Mais um passo foi dado para deixarmos de ser boicotados no ensino e na vida. Ano que vem não estarei mais nessa escola como professora, mas minha filha continuará aluna e eu representante de pais no Conselho de Escola. Não quero faze-la adaptar-se novamente em outra escola. Eles lá já vão ter muito trabalho para acostumarem-se comigo.