Eu sou a mãe com TDAH de um menino com TDAH. Ambos com hiperativos-impulsivos. Eu passei por inúmeros psicológos, fui expulsa de várias escolas, vivia apanhando por conta das \”traquinagens\” e mentiras…. estou com 30 anos, e na minha infância/adolescência não havia muitos profissionais que conheciam do problema e nem que pudessem me ajudar. Minha mãe conta que quando eu era pequena, às vezes meu pai chegava em casa e a via chorando desesperada, porque \”não me aguentava mais\”. Minha mãe nunca soube lidar com isso. Por falta de informação e por falta de motivação. Era mais simples dizer que eu era uma peste e castigar. Na escola meu problema era comportamental. As notas eram sempre as melhores da classe, os trabalhos e a interação… mas era interação demais, falatório demais, tudo demais. Hierarquia?! Não existia pra mim!! Alguns SOE\’s (Serviço de Orientação ao Estudante) tentaram ajudar, mas a falta de conhecimento era grande… lembro bem o que eu ouvia \”Você é esperta, inteligente, mas sua inteligência emocional é falha.\” Na adolescência foquei a energia em sexo, drogas e rock\’n roll. Literalmente. Pouca droga, mas o resto era intenso. Perdi a conta de quantos parceiros eu tive, perdi a conta de quantas vezes fugia para a rua, perdi a conta de quantas vezes estive em risco e nem me tocava. Justamente pelo meu sempre interesse nas coisas, há 5 anos atrás procurei mais uma vez ajuda, porque já passava por crises sérias de depressão, isolamento, insônia – ficava semanas sem dormir, mas em plena atividade! E li e pesquisei e fui aqui e ali e pronto: TDAH! E com isso um monte de esclarecimentos, leitura, mudanças. E descobri que meu maior problema não é o transtorno, mas as comorbirdades dele. Consegui entender muitas atitudes minhas, me livrar da culpa de ter sido uma filha ruim, uma estudante difícil, uma garota \”doida\”. Há 4 anos nasceu meu caçula – por conta da adolescência fervorosa, tive um filho com 18 anos. Ele já pequeno dava sinais de hiperatividade. E conforme foi crescendo, os sintomas foram se manifestando mais. Não há uma única pessoa que tenha me conhecido quando eu era pequena que não diga \”Nossa, ele é uma miniatura sua! Um Tainazinho!\” ou \”AH, você fazia exatamente isso!\”. É genético. Mas ele não sou eu. É uma outra pessoa, que terá uma outra história. A parte do gênio forte, muito amoroso e protetor, solícito e inteligente. Na escola só fala…pelos cotovelos. Das 7.30h às 11.30h não para de tagarelar. É cansativo, exige muita energia e paciência. Somos os dois com TDAH, mas só eu sou adulta. Então quando entro em crises, ou estou na época baixa, procrastinada, lembro que ele precisa de mim, e da minha força e postura. As comorbidades.. Busco o máximo de conhecimento em todos os lugares para lidar com crises impulsivas, agressivas, extremamente ativas. E com as crises de baixo astral. E muito amor. Ganhei uma bicicleta, e para gastar energia, vamos os dois. Ele gasta, eu gasto, passamos tempo juntos, e assim vamos seguindo. Digo que nossa medicação é a rotina. Coisa dificil de cumprir… tarefas, compromissos, o dia a dia, tudo! Mas é essa a nossa medicação: viver a vida com consciência do que se tem e do que se é. Não somos TDAH, somos portadores de um transtorno, mas somos dois seres humanos com coisas lindas por dentro! E é isso que vamos cultivar! Nada será maior do que o transtorno. Ele existe e está ali. Mas temos um ao outro, temos praças para brincar, compras para fazer, a escola, o trabalho, as risadas… e esse é o nosso jeito de lidar com isso. Estamos bem, obrigada!