Enurese é a urinação involuntária que pode ocorrer a qualquer momento do dia ou da noite.

Enurese primária: Crianças que nunca passaram a noite toda sem se molhar. Isso geralmente ocorre quando o corpo produz mais urina durante a noite do que a bexiga consegue segurar e a criança não levanta quando a bexiga está cheia. O cérebro da criança não aprendeu a responder ao sinal de que a bexiga está cheia. Não é culpa da criança ou dos pais.

Enurese secundária: Crianças que não molhavam a cama por, pelo menos, 6 meses começam a molhar novamente. Existem muitas razões para que as crianças molhem a cama depois de estarem completamente treinadas. Podem ser físicas, emocionais ou apenas uma mudança.

Encoprese é a dificuldade de controlar o esfíncter anal para a evacuação repetida de fezes em locais inadequados. Com maior frequência, trata-se de um ato involuntário, mas ocasionalmente pode ser intencional. Deve ocorrer pelo menos uma vez por mês, por no mínimo 3 meses. É uma desordem de causa fisiológica ou emocional, pode ocorrer tanto em adultos como em crianças. Estima-se que aproximadamente 1% das crianças com 5 anos de idade têm encoprese, sendo mais comum no sexo masculino. Quando a incontinência é claramente deliberada, características de Transtorno Desafiador Opositivo ou Transtorno da Conduta também podem estar presentes. A encoprese pode persistir com exacerbações intermitentes por anos, mas raramente se torna crônica.

Enurese e TDAH são dois transtornos cuja associação é frequente em ambas as direções: cerca de 30% das crianças com TDAH são diagnosticadas com enurese e de 20-30% das crianças com enurese apresentam o quadro em co-ocorrência com o TDAH. 

Como crianças e adolescentes tem vergonha de admitir que têm problemas para conter urinação ou defecação, muitas vezes a questão pode demorar a ser percebida pelos pais. Quando a criança ou adolescente com incontinência, tem também TDAH, os pais, educadores e clínicos, tendem a demorar em percerber a enurese ou encoprese como um problema de fato, porque estão mais ‘absorvidos’ pelos prejuízos ocasionados pelo TDAH. 

Estudos revelam que cerca de 5 a 10% das crianças tem enurese, em sua maioria meninos, mas o problema tende a se extinguir com o passar da idade. Cerca de 3% dos meninos e 2% das meninas tem enurese até os 10 anos de idade. Aproximadamente 1% segue com o problema até os 15 anos, sendo em sua maioria meninos.

Os índices de enurese costumam ser significativamente altos, especialmente em meninos com TDAH. Embora as pesquisas ainda não expliquem exatamente o porquê, estima-se que a enurese diurna ocorra 5 vezes mais em meninos com TDAH e a diurna 3 vezes mais. Não é incomum que meninos com TDAH molhem a cama até os 12 anos de idade.

Geralmente as crianças superaram a enurese e encoprese, sem precisar de tratamento. No entanto, passar anos com o problema causa frustração nos pais e nas crianças, afeta a autoestima da criança, e gera conflitos familiares.

Estas crianças costumam evitar convívio social que implique dormir fora de casa, com receio de que seu ‘problema’ seja deflagrado por algum colega, o que obviamente implicaria em uma devastadora situação de humilhação e constrangimento, muito difícil de superar, mesmo depois do problema suplantado.

As consequências emocionais e psicológicas da enurese e da encropese, tornam o tratamento necessário, sendo ambas reconhecidas como problemas de saúde classificadas pelo CID 10 (Classificação Internacional de Doenças, publicada pela Organização Mundial de Saúde  – OMS), e que portanto precisam de tratamento e atenção especial.

Normalmente, recomenda-se primeiro, avaliação médica, com o pediatra, e ou urologista / gastroenterologista, para ter certeza de que não existe um problema fisiológico. No caso de questões físicas serem descartadas, o suporte psicoemocional torna-se fundamental. A psicoterapia é recomendada, não só para a criança, como também para seus pais, já que a enurese como a encropese, tendem a acarretar muito desgaste e figuram entre os maiores causadores de ansiedade, tanto na criança, quanto nos pais.

A ansiedade costuma figurar como comorbidade em 25 a 30% das crianças com TDAH. Submetidas a mais este fator, estas crianças se tornam ainda muito mais vulneráveis a prejuízos não só funcionais e acadêmicos, mas principalmente, a uma autoimagem e autoestima completamente destruídas.

Pesquisas feitas com crianças com enurese /encoprese + TDAH, concluíram que o maior problema no tratamento, é a proporção de ausências de informações solicitadas, quando comparadas com grupos de crianças com enurese / encoprese, mas sem TDAH. Isto significa maior dificuldade em dar continuidade ao tratamento. Por outro lado, crianças com TDAH se mostram mais sensíveis ao tratamento psicológico, generalizando comportamentos aprendidos, ou seja, com empenho para levar o tratamento até o fim, as expectativas de resultados serão promissoras.

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Referências:
1 – Ribeiro Bezerra de Sousa, Carolina – Tratamento comportamental da enurese noturna em crianças com comorbidade de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade
2 – Site Psiquiatria Geral
3 – Doleys, Daniel. Enuresis and Encopresis 

O reconhecimento e diagnóstico de depressão são mais difíceis na infância e adolescência, principalmente porque crianças e adolescentes tem mais dificuldade em reconhecer e nomear seus sentimentos.