O neurofeedback consiste, de modo resumido, no treinamento do indivíduo para que ele consiga usar preferencialmente ondas cerebrais de um determinado tipo (as ondas cerebrais possuem diferentes frequências; isto varia de acordo com a idade, o tipo de tarefa que se está fazendo e em alguns casos com a presença de transtornos).

Este treinamento é realizado geralmente com videogames em computadores. Usando eletrodos semelhantes àqueles usados quando se faz o exame de Eletroencefalograma, o software “capta” as ondas cerebrais do indivíduo e “transforma” num determinado aspecto do jogo. Por exemplo, ondas mais lentas fazem um aviãozinho na tela ficar inclinado, ondas mais rápidas fazem com que ele voe reto. Assim, pode-se fazer um jogo (por exemplo, pedindo que um aviãozinho voe por um determinado trajeto, precisando ora ficar reto, ora ficar inclinado para se desviar de obstáculos) onde se estimula indivíduo a conseguir, por seu próprio esforço, usar mais ondas de um determinado tipo (frequência).

Embora já tenham sido descritas algumas alterações no Eletroencefalograma de indivíduos com TDAH, muitos indivíduos não apresentam qualquer alteração e elas também não podem ser usadas para diagnóstico (que permanece sendo clínico, isto é, sem a realização de exames complementares, como inúmeros outros transtornos).

Um estudo recente do tipo meta-análise – que reúne os artigos publicados a respeito de determinado assunto e os analisa rigorosamente de modo conjunto – investigou a eficácia do neurofeedback no TDAH. O artigo é de autoria de Edmund Sonuga-Barke e colaboradores, publicado no American Journal of Psychiatry em 2013. Neste tipo de análise, levam-se em consideração aspectos que podem influenciar os resultados: o pesquisador comparou o tratamento com um placebo (no caso, utilizando a mesma aparelhagem, porém sem que o software realmente use as ondas cerebrais)? O pesquisador sabia quem estava realmente usando o software e quem estava apenas jogando um videogame comum (isto pode afetar a análise dos resultados)? Estes e vários outros fatores afetam a “qualidade” de um estudo científico.

Os autores demonstraram que o neurofeedback traz realmente alguns benefícios no tratamento do TDAH, porém eles são considerados bastante pequenos (isto é, a eficácia do tratamento existe, mas é pequena). Os benefícios do neurofeedback foram considerados inferiores àqueles obtidos com o tratamento farmacológico. 

 

Dr. Paulo Mattos
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Mestre e Doutor em Psiquiatria e Saúde Mental
Pós-doutor em Bioquímica
Presidente do Conselho Científico da ABDA

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