A Associação Brasileira do Déficit de Atenção enviou carta à revista VEJA comentando a matéria veiculada na sua última edição. O Presidente da ABDA, Prof. Paulo Mattos, assinou uma carta conjunta com professores de renome internacional pertencentes a instituições de ensino superior e responsáveis por serviços de pesquisa e tratamento de TDAH, Profs. Luiz Rohde do Rio Grande do Sul e Mário Louzã de São Paulo.

O uso da Ritalina em situações não terapêuticas ocorre geralmente com indivíduos que não são portadores de TDAH, que raramente desenvolvem abuso ou dependência por conta das propriedades químicas do produto e de suas formulações modernas de liberação gradual. Mais ainda, o seu uso em portadores de TDAH torna duas vezes menos freqüente o abuso e dependência futuros de drogas ilícitas. As evidências científicas apontam para inexistência de excesso de prescrição da Ritalina, tanto no Brasil, quanto nos EUA e na Austrália.

O TDAH causa sérios prejuízos ao portador e a Ritalina é um dos medicamentos de escolha para tratamento. O transtorno é subdiagnosticado em todo o mundo. No Brasil, se considerarmos as estimativas mais conservadoras da literatura científica existem 3,6 milhões de portadores, entre adultos e crianças. O dado de 25.000 crianças tomando o produto é provavelmente hiperestimado e apresentado sem nenhuma referência na reportagem (e, mesmo que verídico, comprovaria o sub tratamento). Do mesmo modo, a informação que o TDAH cursa necessariamente com dificuldades de aprendizado é incorreta, já que elas somente ocorrem num subgrupo dos portadores ou quando há outros transtornos associados.

Embora os médicos devam acautelar-se com o uso errado do metilfenidato, mais preocupante são os números de portadores de TDAH não-tratados. Reportagens como essa, além do pânico que causam, pouco ajudam para um melhor esclarecimento da população sobre o transtorno e seu tratamento.

 

Assinado:
Paulo Mattos – Professor Adjunto de Psiquiatria da UFRJ / Coordenador do Grupo de Estudos de Déficit de Atenção (GEDA) – Instituto de Psiquiatria da UFRJ
Luis Augusto Rohde – Professor Adjunto de Psiquiatria da Infância e adolescência – UFRGS / Coordenador do Programa de Déficit de Atenção/Hiperatividade – Hospital de Clínicas de Porto Alegre
Mario Louzã – Coordenador do Projeto Déficit de Atenção e Hiperatividade no Adulto (PRODATH) Instituto de Psiquiatria do Hospital de Clínicas – Faculdade de Medicina da USP