Na última 3ª feira (13/09), Paulo Mattos, psiquiatra, professor da UFRJ e presidente da ABDA falou sobre o TDAH no RJTV.A entrevista, de grande destaque no programa, abordou as principais dúvidas que os pais de portadores têm em relação aos sintomas e principalmente como lidar com eles.

Para saber mais sobre o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), que é mais comum do que parece, o RJTV entrevistou o psiquiatra Paulo Matos, presidente da Associação Brasileira de Déficit de Atenção.

RJTV: Como saber se a criança é levada e bagunceira ou se é realmente hiperativa? Os pais fazem essa confusão?

Paulo Matos: Fazem sim, mas o mais comum é que os professores consigam fazer a diferença. Porque o professor vê muitas crianças ano após ano, por isso ele consegue perceber que aquela criança é mais agitada que as outras. É comum correr, brincar, ficar agitado, ficar distraído, principalmente quando a aula é chata. Todo mundo é assim um pouco. Mas o que caracteriza o TDAH é quando a criança tem muitos sintomas, quando ela é muito mais agitada que as demais. É importante fazer esse diagnóstico porque quanto mais cedo é feito o tratamento, melhor o prognóstico do distúrbio.

Mas o que é esse mais cedo? Com que idade pode se ter uma garantia, uma certeza de que a criança tem um problema de déficit de atenção? Em um bebê já é possível perceber?

Não é obrigatório, mas muitas mães contam que já no cercadinho a criança já ficava inquieta, rolando de um lado para o outro. Mas o diagnóstico fica mais claro, mais evidente por volta dos 7, 8 anos. Que é justamente quando a criança tem que ficar sentada na sala de aula, tem que se organizar para estudar em casa. E aí fica claro que todas as demais crianças conseguem fazer isso, e ela não consegue. Isso atrapalha muito o rendimento, pouco a pouco ela vai sendo discriminada pelos colegas, pelos próprios professores porque ele está sempre fazendo bagunça. Pouco a pouco começa a ter uma piora na auto-estima, o abandono escolar é muito comum. E um problema recente que está ficando bastante evidente para todos que trabalham com TDAH é o aumento da prevalência de uso de drogas e álcool nestas crianças. Isso já é um problema de saúde pública, mas os portadores de TDAH têm maior incidência de abuso de drogas.

Pergunta de Renata Melo, professora de educação física, tem um filho de 8 anos – Uma criança que é hiperativa e não é tratada na infância ela pode ter seqüelas na vida adulta?

Essas crianças se tornam adolescentes que têm mais incidência de depressão, ansiedade, desemprego, a incidência de divórcios em adultos portadores de TDAH é três vezes maior. Esses indivíduos, como já falei, têm maior abuso de drogas e álcool, além disso, eles sofrem mais acidentes de transito e quando eles ocorrem, eles tendem a ter maior gravidade.

Todos os casos são tratados com remédio, ou não? Terapia também ajuda. Porque muitos mais podem retardar esse tratamento por medo de dopar as crianças.

Essa é uma dúvida muito comum. Estudos que foram feitos até hoje comparando terapia, medicação e a combinação de terapia e medicação mostram que o medicamento é extremamente importante na maioria dos casos. Os pais não devem temer o uso de medicação porque ela controla os sintomas de maneira muito satisfatória.

Pergunta de Alessandra Rocha, que tem um filho de 6 anos, que é hiperativo – Eu gostaria de saber se a hiperatividade da criança pode refletir na sua auto-estima.

Certamente. Essas crianças com o tempo são chamadas a atenção pelo professor. Ficam de castigo, não conseguem parar quietos, não conseguem manter uma conversação, interrompem os outros quando eles estão ocupados. E com isso a auto-estima vai piorando com o tempo.

E em relação aos adultos? Os sintomas são parecidos?

Os sintomas são parecidos. Isso é uma cosia relativamente recente. Não se sabia que o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade ocorria também em adultos. Mas hoje em dia se acredita que em torno de 50% a 60% irá ingressar na vida adulta com sintomas do transtorno.

E ainda agitados?

Eles ficam se balançando na cadeira, não esperam o interlocutor parar de falar, ficam tamborilando os dedos. O adulto não é hiperativo, ele é inquieto. Ele vai para a praia, joga, vai pra água. Ele não consegue relaxar e sossegar mesmo quando ele tem tempo livre. Mas ele não é propriamente hiperativo como no caso das crianças.

Como os pais devem lidar com essas crianças? Porque geralmente essas crianças são muito levadas, como ligar com essas crianças sem se tornar excessivamente autoritário?

A primeira providencia quando há uma suspeita de TDAH é saber se realmente existe esse diagnóstico. Havendo o diagnóstico é iniciado o tratamento com medicação, terapia e muitas vezes com tratamento pedagógico. A partir daí o pai vai receber orientação de como lidar da melhor forma com a criança. Sem ser demais, nem de menos.