Tenho dois filhos e o mais novo foi diagnosticado como hiperativo quando estava com três anos e meio de idade; na época não existia o TDHA ou, se existia, não ouvi médico nenhum falar a respeito; existiam apenas a hiperatividade e o DDA.
Vou tentar aqui resumir a minha história, pois com certeza essa é uma grande jornada e uma grande luta diária. Minha história com meu filho começou quando comecei a observar certos comportamentos nele que julguei estarem “fora do padrão” e que me fizeram buscar respostas.
Apesar de toda criança pequena possuir muita energia, ele a possuía “por demais”; era desatento, estabanado. Vivia se machucando: com dois anos e meio em uma sequência de três meses, sofreu uma palatoplastia, uma fratura da tíbia e uma queda da bicicleta que me deixou completamente apavorada. Mesmo sendo pequeno, não tinha menor noção do perigo. 
O irmão, um ano e meio mais velho apenas, também era “levado” como qualquer criança… mas seu comportamento era muito diferente. Até encontrar finalmente um médico que despertasse a minha confiança para que o tratasse, percorri muitos consultórios médicos e meu filho fez muitos exames, incluindo a ressonância magnética. 
Na escola, sua atenção se voltava apenas para as aulas de matemática e informática. Demorou a conseguir ser alfabetizado e chegou a ter suspeita de que era disléxico; graças a uma professora dedicada meu filho conseguiu aprender a ler e a escrever e essa história vou relatar aqui pois quem sabe possa ajudar profissionais da educação que por ventura se deparem com um situação dessas com algum de seus alunos: meu filho sabia todo o alfabeto mas não conseguia completar sua alfabetização. Depois de várias tentativas usando métodos tradicionais, a professora dele decidiu então, a fim de despertar nele o interesse em ser alfabetizado, “entrar no mundo dele” (meu filho não era autista) e conversava muito com ele a fim de descobrir quais personagens infantis ele mais gostava; e foi assim então que conseguiu alfabetizá-lo, através dos nomes desses personagens, desmembrando as letras e as combinações das mesmas.
Até hoje agradeço a Deus por essa professora abençoada que cruzou o caminho do meu filho! Foi uma luta constante para que ele pudesse ter tudo o que necessitava. Eu pedia bolsas de estudo nas escolas, procurava profissionais que prestassem serviços baseados em orçamento familiar, mas enfim ele conseguiu ter quase tudo o que precisava: psicóloga (fez ludoterapia), neurologista e fonoaudióloga. Faltou a psicopedagoga também solicitada pela escola na época, mas essa infelizmente eu não tive como pagar. Estava separada do pai dos meus filhos e infelizmente ele sempre foi ausente. Sua única presença era a pensão alimentícia e dessa eu fazia o que podia para que pudesse cobrir todos os gastos. 
Eu não tinha como trabalhar fora pois precisava que o levasse nas consultas. Sei que cada história é única porém no meu caso a do meu filho misturou-se com a minha e tornou-se uma só história. Pois era uma vigilância constante para defendê-lo da discriminação e das humilhações as quais passou inúmeras vezes.
Não era “educado” e portanto, não era bem visto pelos pais dos amiguinhos; atrasou-se no estudo e então era “burro”, como foi chamado uma vez na porta da escola por um aluno de uma série mais avançada quando, interrogado pelos colegas de turma o porque ainda com dez anos estar na segunda série do ensino fundamental. 
E por aí se repetiam cenas diferentes mas sempre com a mesma conotação. E ali nessas cenas eu surgia. Certa vez telefonei para o pai de um dos amigos de meu filho que havia “proibido essa amizade” e “soltei os bichos” nele falando que, antes que rotulasse meu filho de qualquer coisa que fosse…que buscasse se informar sobre o que era hiperatividade; e que discriminação era crime e que não perdoaria tal coisa com meu filho. 
Esse é só um exemplo de uma situação que acontecia em meio a tantas outras. E assim foram anos seguidos da minha vida até o momento em que meu filho não mais necessitou de remédios, nem de fonoaudióloga e nem de psicóloga.
Hoje ele está com 21 anos de idade e quem o conhece sequer diria que um dia quando criança teve diagnóstico de hiperatividade. 
Estuda, trabalha e tem uma vida tranquila e estável. Conseguiu recuperar auto-confiança e auto estima. Mas, por que falo tanto em minha atuação em relação à hiperatividade que meu filho possuía? Porque muito depende de nós, pais de crianças com TDHA.
As escolas deveriam ter estrutura para crianças com esse déficit? Com certeza que sim, porém não têm. 
Existe algum programa do governo na área educativa e de saúde voltado para essas crianças necessitadas de uma atenção em especial?
Pelo o que eu saiba não existe…
Então, o que eu posso deixar aqui como depoimento, para resumir a minha história é o seguinte: sem a sua dedicação, pai ou mãe.. ou ambos, fica muito mais difícil essa jornada. 
Busquem alternativas, procurem profissionais, avaliem respostas, acompanhem seus filhos, defendam e lutem pelos direitos deles. 
Se uma porta se fecha, sempre se encontra uma que se abre. E embora muitas vezes nos sintamos esgotadas (só quem é mãe de uma criança hiperativa compreende como é sua rotina diária), não desista! Eu passei por muita coisa. Fiquei doente com problemas de stress, pois eu não descansava, além disso tudo meu filho me exigia uma atenção constante, como se toda a atenção do mundo que eu desse a ele não fosse nada. Nunca era o suficiente.
Então, é muito difícil essa luta… pelo menos na nossa “época” foi. E mesmo que hoje em dia ainda seja, não desistam. Acima de todo apoio profissional que possam ter, o maior apoio que necessitam é o de vocês. 
Contar toda a minha história seria como escrever um livro, mas desejo que essas poucas palavras deixadas aqui possam ajudar alguém.
Obrigada pelo espaço. 
Fiquem com Deus.