Sou mãe de gêmeas idênticas diagnosticadas com TDAH. Até os 7 anos de idade vivemos uma via crucis de escola em escola. Os argumentos das escolas e dos pediatras eram sempre os mesmos: falta de limites e falta de empenho dos pais. Restava-nos um profundo sentimento de culpa e um isolamento social. Aos 7 anos conseguimos um médico que diagnosticou e tratou as minhas meninas, assim como me orientou na descoberta do TDAH. Essa orientação foi fundamental no processo, pois seria eu, a mãe, a pessoa que conviveria mais tempo com as gêmeas. Então, eu deveria explicar às crianças, de forma lúdica, o que era o TDAH e o que fazer para conviver com ele. Com formação em docência superior, li muito sobre o assunto, participei de reuniões de grupos e orientação a pais e comecei a perceber que eu mesma tinha muitos dos sintomas das minhas filhas, principalmente uma procrastinação crônica que me causava depressão. Muito natural porque o transtorno é genético e hereditário. Mas como ajudá-las se eu agia como elas? Como orientá-las se eu me sentia totalmente desorientada? Busquei o diagnóstico, comecei a me tratar com medicação e psicoterapia, e observei que a mudança do meu comportamento me possibilitava pensar e criar diferentes recursos e alternativas para melhorar as inúmeras dificuldades de comportamento e aprendizagem das minhas filhas. O meu tratamento também interrompeu uma vida fragmentada, marcada por frustrações, baixa autoestima, melancolia, ansiedade e a certeza de nunca ser capaz de estar no lugar certo e na hora certa. Durante o tratamento das minhas filhas, fui aceita como voluntária num serviço de atendimento a crianças e adolescentes com TDAH. Ao final de 4 anos como voluntária fiz um curso de especialização em saúde mental na infância e adolescência e ali mesmo decidi mudar minha profissão. Sem deixar de ser professora fiz a faculdade de Fonoaudiologia e hoje exerço essa nova profissão para ajudar as pessoas com TDAH e seu entorno (família, escola, amigos). Minhas filhas estão bem, com muitos amigos, sonhos, projetos de vida. Atualmente terminam o Ensino Médio e Técnico, e estão na fase de escolher uma entre as várias opções de Faculdade. A melhor recompensa é receber das minhas filhas os agradecimentos por eu ter-lhes proporcionado uma infância muito feliz, graças a um amor capaz de construir e reconstruir referências. Na realidade, devo às minhas gêmeas e seu TDAH uma verdadeira revolução que trouxe a primavera na minha vida.