Minha filha estava na segunda série quando a orientadora pedagógica veio falar comigo. Ela tem algum problema, não é cognitivo, ela aprende, mas não conclui uma tarefa. Em casa Júlia passava o dia inteiro para fazer uma tarefa, às vezes nem brincava, pois sem concluir a lição, não podia sair da mesa da sala. Os colegas foram muito compreensivos com ela. Não a julgavam, não a discriminavam. Brigavam para ver quem ia ajudá-la. Mas mesmo assim ela me perguntava: "Mamãe, por que eu sou diferente?" Eu procurava responder da melhor maneira possível. "Filha, somos todos diferentes", mas ela também sabia que alguma coisa não ia bem. Comecei a levá-la para uma psicóloga para avaliação. O laudo, déficit de atenção. Levar ao neuropediatra. O primeiro que a examinou solicitou exames, muitos. No final disse que não havia nada errado com ela, que era problema da escola, que não sabia ser interessante. Voltei pra escola e para a psicóloga com esta resposta. A psicóloga não se contentou, e insistiu que eu a levasse em outro neuro, deu-me indicação de uma das melhores da cidade, mas era particular. Naquele momento, eu já pagava a psicóloga, e não tinha dinheiro para outro especialista particular. Mais uns meses se passaram, e fomos à nova médica. Fui logo entregando os exames, mas foi o que ela menos se importou. Conversamos muito, depois ela passou a examinar a Júlia. Leu o laudo da psicóloga e por fim, olhou os exames. Seu diagnóstico, Déficit de atenção. Na mesma semana minha filha iniciou a medicação, os primeiros dias uma dose tão pequena que nem fazia diferença, mas ao chegar na dose correta, vimos logo o resultado. Exultante, minha filha chegou no carro depois da aula e com o maior sorriso do mundo me disse: "Mamãe, hoje não fui a última a terminar a lição". Foi a mesma sensação como se fosse uma medalhista na olimpíada escolar, um grande orgulho de si, por conseguir terminar a tarefa.