Como começar esta história? Talvez pelo fim! Embora minha história não tenha terminado, entendo que o fim seja o agora,porque meu começo refaço a todo instante! <br /> Começarei pelo longo trajeto de minha descoberta pessoal do meu TDAH. É, isto mesmo, chamo de meu TDAH, porque como vejo meu transtorno como sendo só meu, pois sou única, vejo como as minhas demais características pessoais. Ora adoro ser tdah, ora odeio. Tal qual minhas demais características que me constituem sujeito único. <br /> Sou fonoaudióloga há mais de 2 décadas, amo o que faço e minha profissão também me possibilitou ver e conviver com muitos sujeitos também TDAH, mas mesmo assim precisei viver 40 anos para descobrir esta minha característica. E mais descobrir que na minha família, ainda não diagnosticados também existem mais TDAHs. <br /> Vejo que meu TDAH foi quem mais me ajudou a entender e compreender os sofrimentos emocionais que meus pacientes passam com dores que qualifico como d'alma. É uma dor que o outro pode não perceber que exista, mas ela está ali presente, latente,pungente, te fazendo ser e sentir – se um incompetente, nesta sociedade que supervaloriza as competências e os desempenhos! Que é intensa nas pequenas tarefas diárias, que para os outros não tdah, são tão corriqueiras e simples,pelo menos aos olhos meus.É necessário para nós um esforço enorme para que vejam nossas características e comportamentos interessantemente positivo, nossa criatividade, imaginação, capacidade de resolução de problemas, nossa velocidade de pensamento e outras. Tive e tenho amigos que não perdem oportunidade de brincar comigo pelos atrasos, desorganizações, perdas de prazo, etc… <br /> Hoje ás vésperas de me tornar uma cinquentona (que sem modéstia, considero melhor do que muitas trintonas e quarentonas, rsrsr pela vivacidade que sei que tenho) vejo e sinto que ser TDAH não é uma maldição, como escuto alguns pais e mães dizerem sobre seus filhos e até mesmo tdah adultos que atendo com dificuldades escolares, não consigo ver algo que me pertença, tal qual meus olhos azuis ( que dizem ser lindos) possa ser uma maldição. Já chorei, sofri e ainda sofro, mas descobrir que algumas "lambanças" que costumo fazer são também explicadas por este transtorno que me constitui no sou e como sou, me possibilitou perceber que somos verdadeiramente diferentes e únicos. E que ser diferente é o que faz da vida ser o que é, interessante, surpreendente e incrível experiência a ser literalmente "vivida"!<br /> Certa vez, quando ministrava um curso para professores de ensino fundamental de minha cidade sobre dificuldades na apropriação da ortografia, encontrei uma profa que também era tdah. Qual não foi minha surpresa quando ela, durante o intervalo de uma das aulas, me questionou sobre como eu conseguia lidar tão bem com o meu tdah, pois durante as aulas havia dito que eu era. Fui, realmente, pega de surpresa, nunca haviam me perguntado nada parecido, então disse que ser tdah é uma característica minha e que procuro tirar disto o que posso de melhor.<br /> Faz pouco tempo assisti um filme biográfico sobre um portador de síndrome de Tourett, que aliás aconselho que todos assistam, de um professor norte americano ganhador de um prêmio como melhor professor do seu Estado, e o que me comoveu e permitiu entender melhor meu TDAH foi seu discurso final, pois ele agradeceu à melhor professora que ele teve ao longo de sua vida, a Tourett. Sei que sinto o mesmo que ele, pois meu TDAH me ensinou e me ensina todos os dias, especialmente a compreender que nós somos únicos e que nesta longa jornada da vida devemos nos superar a cada hora, cada dia, cada ano. <br />