Boa tarde a todos. Obrigado pela oportunidade de falar um pouco sobre meu problema. Eu tenho 40 anos e descobri que sou TDAH a apenas 2 anos. Antes disso, apesar da minha extrema dificuldade de organização, consegui passar em um concurso público (onde eu percebi como minha impulsividade pode prejudicar uma pessoa profissionalmente) e em Psicologia em uma universidade pública aqui no Paraná, além de outras situações. Eu realmente não sei bem como eu consegui passar e, principalmente, continuar nessas instituições. Como eu gostava muito do que fazia, talvez meu hiperfoco tenha me dado a energia necessária para tal. Profissionalmente sempre me considerei bom tecnicamente. O problema é que havia uma cultura dentro da empresa que ia de encontro com o que eu achava e, ao contrário de muitos colegas que pensavam como eu, expunha minhas idéias a quem quisesse ouvir, discutia de igual para igual com superiores, falava em momentos que não era o caso, desrespeitava as pessoas em público quando não concordava com a idéia e isso me causou muitos problemas, quase me levando a perder meu emprego. Com a ajuda de uma psicóloga que deveria ser canonizada, consegui me controlar a muito custo e continuar até hoje, 20 anos depois. Mas o sentimento de inadequação durou muito tempo, muita revolta, muito sentimento de não ser compreendido (e, efetivamente não era, já que nem eu mesmo me compreendia, como iria mostrar isso para as pessoas). Na escola primária sempre tinha desempenhos paradoxais. Excelentes notas em alguns momentos, dificuldades em outros. na 3a. série eu era viciado em gibis, tinha mais de 100, que já tinha lido. Mas eu relia, relia, relia, ficava fascinado por revistas marvel. O sofrimento dos personagens, hoje eu vejo, me gerava uma espécie de identificação. Porém, eu não queria estudar. Resultado, minha mãe botou fogo em todos os meus gibis. Só de pensar hoje eu sinto uma tristeza muito grande. Mas como sempre fui obstinado, eu juntava papel e lata, ferro, na rua e consegui comprar de volta, em sebos, quase todos, depois de muito tempo. Mas isso não melhorou minha nota, apesar de minha mãe achar que isso seria o resultado. Nessa época, ela me levou pra fazer um tratamento com um neurologista que atendia no hospital em S. Francisco Xavier, no Rio. Passei a tomar um remédio que não sei qual era, pois meu diagnóstico foi \”disritmia cerebral\” (ou algo do tipo. Eu queria ver os exames hoje, depois do diagnóstico, mas a enchente de 96 no Rio levou tudo pra lama). De certa forma o tratamento me ajudou, mas eu não tinha regularidade, apesar de todos os professores acharem que eu tinha inteligência acima da média, algo que eu não concordava e, sinceramente, não precisava. Não fazia diferença, eu só queria me divertir na escola. Na Universidade foi um Caos. Eu já estava no Paraná, passando pelos problemas no trabalho e um ritmo alucinante de estudo. Quando eu gostava da matéria, nota máxima. Se eu não gostasse, era um Deus nos acuda, passava raspando. E não ficando calado quando deveria. Como sempre, extremos. Ou gostavam muito de mim ou me excluiam solenemente. Sofri muito com isso. Bom, falar em perder as coisas, não lembrar onde tinha colocado outras, esquecer compromissos, chegar atrasado ou muito em cima da hora em tudo, desorganização. Lembro expecialmente de uma oportunidade em que eu me forcei a ficar 1 hora pra ler 1 parágrafo. Eu terminava de ler e não lembrava absolutamente NADA do que tinha sido escrito. Eu me achava MUITO burro. Escutei várias vezes da minha mãe que eu não era inteligente, era esforçado. Mas como eu era só esforçado depois de conseguir tanta coisa que muitos não conseguiram? Era difícil pra eu entender a diferenciação entre as coisas. Após o diagnóstico e a medicação, minha vida mudou MUITO. Tomo medicação para TDAH e desde então e é como se fosse outra pessoa. Saber que era isso que eu tinha e não preguiça, falta de vontade ou burrice foi libertador. Inclusive minha esposa hoje fala que o remédio deveria vir na água, tanto que eu \”mudei\”. Por isso eu agradeço muito ao meu médico, Dr. Fabiano, pela descoberta e ajuda. Sou uma pessoa feliz hoje, mas ainda esqueço as coisas, me sinto desorganizado às vezes. Quem não esquece?