TDAH, Criatividade & Inteligência

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Este tema sempre encontrou espaço nas pesquisas sobre TDAH e também deixa algum rastro de polêmica. Na verdade, ‘criatividade’ e ‘inteligência’, são por si só, temas bastante controversos. Por exemplo, você alguma vez já se perguntou: ‘O que é inteligência? ’ Ou ‘O que é criatividade? ’ Consegue definir facilmente? Mesmo dentro da comunidade científica, existem controvérsias sobre a definição e a funcionalidade destas características humanas. Alguns cientistas acreditam que ambas estão intimamente ligadas, e que dependem totalmente uma da outra. Outros cientistas acreditam que são funções separadas, que podem ou não afetar-se mutuamente. Estas divergências não são aleatórias. Milhares de pesquisas realizadas ao redor do mundo, ainda não ofertaram resultados conclusivos, necessitando assim, de mais pesquisas.

O TDAH é o transtorno mental mais estudado e pesquisado no mundo. Inúmeros pesquisadores se debruçaram sobre a questão da criatividade e inteligência nos portadores de TDAH, e, da mesma forma que as pesquisas gerais realizadas sobre estes temas, também não foram obtidos resultados conclusivos. Em outras palavras, não é possível concluir com margem mínima de segurança que o transtorno afete significativamente para melhor ou para pior, a inteligência ou a criatividade.

Vamos exemplificar:

Algumas pesquisas indicam que em média, portadores de TDAH tem um escore de QI 10 pontos abaixo dos seus pares sem TDAH. No entanto, estas mesmas pesquisas, questionam e não sabem responder com segurança, se existe de fato diferença real de inteligência, ou se, devido à dificuldade de atenção, a inteligência real do portador ficaria ‘mascarada’. Neste caso, pensa-se numa ‘falha’ do teste. Uma comparação simples seria imaginar, por exemplo, que um deficiente visual, precisaria realizar um teste de QI de acordo com as suas necessidades.

Por outro lado estas mesmas pesquisas observaram escores superiores de criatividade geral em portadores de TDAH sobre seus pares sem TDAH. No entanto, existem algumas falhas nestas pesquisas. Primeiro, entende-se que em uma pesquisa, os voluntários podem estar mais à vontade para responder questões, que não tem a mesma pressão e grau de exigência que a vida real impõe no dia-a-dia. Segundo, para estes testes foram selecionadas previamente, pessoas com e sem TDAH, que trabalham em funções onde a criatividade é requerida, assim, não se pode afirmar que este resultado se aplica generalizadamente.

A tese do Dr. Russel Barkley, compartilhada por grande parte da comunidade científica, é de que pessoas com TDAH tem inteligência e criatividade no mesmo nível que pessoas sem TDAH. Afirma, o Dr. Barkley que o TDAH ‘não é um dom’ e que as pessoas com TDAH que tem sucesso na vida, não o alcançaram por causa do TDAH e sim apesar do TDAH.

Os que creem que portadores de TDAH são mais criativos, argumentam que, a falha na inibição do córtex pré-frontal, que causa a dispersão do pensamento, deixaria as mentes mais abertas a qualquer coisa, o que, se por um lado é bastante ruim, por outro lado proporcionaria mais condições aos ‘insights’. No teste FourSight Thinking Profile (teste que reflete o estilo de resolução de problemas preferido pelo indivíduo), os portadores de TDAH em sua maioria inseriram-se no estilo ‘Idealizador’, mostrando que eles preferem gerar múltiplas ideias, ao contrário de seus pares sem TDAH, que preferem desenvolver ou aprimorar ideias já concebidas. Sabemos que portadores de TDAH tem dificuldade em usar experiências anteriormente vividas, em aprender com ‘os próprios erros ou acertos’. Este resultado, talvez possa ser explicado, por esta característica. A falta de foco e desorganização mental, as memórias operacionais e prospectivas disfuncionais, podem então, colocar o indivíduo com TDAH numa condição eterna de improviso, buscando soluções diferentes, a princípio, meramente porque ele não focaliza a solução óbvia, e não necessariamente porque simplesmente prefira inventar coisas o tempo todo. Neste sentido, talvez possa se pensar, que por causa do TDAH alguns portadores acabariam desenvolvendo mais a criatividade para compensar o déficit cognitivo, mas ainda assim, isto é mera especulação.

Tudo o que foi dito até aqui são considerações a partir de algumas pesquisas, que, como já foi dito, não são conclusivas. Ainda há muito a se pesquisar e entender, sobre o TDAH, sobre, criatividade, inteligência, sobre as diversas e complexas facetas do ser humano.

As pesquisas são fundamentais não apenas para o conhecimento, mas especialmente para o desenvolvimento de instrumentos que permitam a melhora da qualidade de vida das pessoas em geral. Enquanto os cientistas fazem a parte deles, nós devemos fazer a nossa parte.

Independentemente dos resultados de estudos e pesquisas, todo mundo sabe que cada ser é único e complexo, formado por várias características, onde o TDAH é mais uma. O TDAH faz parte do sujeito, mas não o resume.

Hoje, sabe-se que o cérebro tem uma plasticidade maior do que se pensava, que inteligência pode ser melhorada e criatividade pode ser desenvolvida. Sabe-se também que o contexto familiar e social, juntamente com a hereditariedade biofisiológica, influenciam no desenvolvimento do indivíduo. Para ilustrar, temos exemplos de pessoas que nasceram sem ou perderam os braços, e desenvolveram habilidades incríveis com os pés e pernas, como dirigir ou pintar quadros e até tocar piano. Por outro lado, muitas pessoas que nasceram ou perderam seus braços, passam a vida toda dependentes de outras pessoas e não desenvolveram tais habilidades com as pernas. Qual a diferença entre essas pessoas? Não sabemos. Muitas especulações podem ser feitas, mas, como saber de fato, porque as pessoas são tão complexamente diferentes umas das outras? Isto não importa. O que importa é pensar no que podemos, desejamos e vamos fazer com o todo potencial que temos.