Minha filha possui hoje 20 anos de idade.
É portadora de TDAH, além de tomar medicamento anticonvulsivante e ter perda auditiva parcial bilateral. 
É uma pessoa muito feliz, dentro de suas limitações. Mas para ela, não há limites para superar a vida.
Eu realmente a amo muito. É minha grande amiga, carinhosa, prestativa, solidária, linda, um exemplo de vida. 
Foi, realmente, uma criança muito difícil, até porque, entre a irmã mais velha e ela, há apenas 11 meses de diferença, o que favoreceu em muito para as demais pessoas (amigos, professores, parentes, etc)às comparações: tanto em relação à maturidade emocional, no aprendizado mais lento, na dificuldade de se socializar, no comportamento agitado, na falta de atenção e concentração, entre outros.
Na verdade, a época de seu nascimento foi um verdadeiro desafio para mim:
– a gestação foi conturbada, pois trabalhei debaixo de forte stress até o final da gravidez em uma empresa que não respeitava o direito e a limitação humana, pressionando o funcionário ao cumprimento de metas incabíveis sob a pena de perder o emprego e, no meu caso, entrar em algo chamado “quadro reserva” ao retornar da licença-maternidade, já era indício de DEMISSÂO; 
– após o parto, minha filha ficou por 5 dias na incubadora, com grave icterícia, além de ter otite nos dois ouvidos;
– tive depressão pós-parto; 
– o pai dela nos abandonou assim que ela fez 10 dias de vida.
Graças a Deus pude contar com a ajuda de minha família, senão, não teria suportado.
Até os dois anos de idade a vida da menina foi marcada por intenso choro: talvez pelas otites em repetição; talvez pela nossa falta de entendimento de coisas tipo: “O que está acontecendo com você?” ou “O que você realmente necessita?”, “Como podemos te ajudar?”. Deus, era muito doloroso! 
Até que certa vez, neste mesmo tempo,saí para o trabalho e, aproximadamente duas horas depois, o zelador de meu prédio, ligou, a pedido de minha mãe, avisando que ambas estavam em um hospital próximo a minha residência, pois minha filha necessitou de atendimento de emergência, devido a uma forte convulsão. Eu fiquei muito abalada. Foi o início de um longo tratamento acescentado a vida da criança (como se já não bastasse as idas e vindas constantes ao pediatra e ao otorrino): um neurologista! Foi a orientação que recebi do pediatra daquele hospital:
– “Sua filha deverá ser acompanhada por um neuro-pediatra, para investigar a causa da convulsão!”. 
– “Mas, quem?”. “Quem eu procuro?!” – perguntei.
– “Não indicamos profissionais, senhora!” – dizia a pediatra.
– Ah, que ótimo!” – pensei. – Vou fazer um uni-duni-tê no livro do convênio médico.” – imaginei. Foram quase 8 anos lutando, entre um neuro e outro.
Notei, quando minha filha completou seus 3 anos de idade que, sempre que algo lhe chamava à atenção à TV, ela colava seu rostinho bem perto e ria. De início achei que era problema na visão, mas após o exame, a oftalmologista recomendou-me a visita a um otorrino para fazer uma audiometria. NOTA: Realizar este exame com uma criança que apresentava todos os traços do TDAH, foi realmente muito difícil. Mas com o carinho e paciência de uma doce fonoaudióloga que Deus pois em nosso caminho, nós conseguimos. 
Informo que este exame levou quase 4 MESES para ser feito, pois foi uma tentaviva atrás da outra, toda semana, para descobrirmos o melhor modo para ela responder de forma confiável ao exame.
Depois disso também fizemos um exame conhecido por “BERA”. O resultado já era esperado: perda parcial auditiva severa/profunda. Provável causa: otite em repetição. Por incrível que pareça, minha filha já tinha a fala dominada e, hoje, se não for pela prótese, quase não se percebe que ela é deficiente auditiva. 
De escola em escola, era assim a vida da menina, pois trabalhar com crianças portadoras de necessidades especiais, naquela época, era um verdadeiro desafio para as escolas. Ainda havia o problema de ter que lidar com aqueles diretores que nos olhavam como se fossem nos dar um cartão vermelho,intimidando-nos com seus sutis convites de retirada de campo, pois ali não era o nosso lugar.
Na verdade, era bem complicado, para o professor, entender o porquê de uma criança não permanecer sentada como as demais crianças, de nem sempre querer fazer as atividades, de não ter interesse em quase nada do plano de aula da Tia!
E para os coleguinhas, o direito de um era o direito de todos: o que representava para todas elas correrem para lá e para cá, acompanhando a minha filha, fazendo da escola um verdadeiro caos.
Eu realmente precisa de um neurologista (Não que não tivéssemos nenhum. Nossas idas ao neuro-pediatra era na verdade apenas para as consultas relativas ao tratamento da convulsão, os demais assuntos relatados ficavam sem solução.) 
Até que por fim, a fonoaudióloga da menina, compadecendo-se do meu problema, recomendou-me uma neuro-pediatra, que tratava vários pacientes seus (com bom resultado)em uma cidade próxima a nossa casa. A luz começou a clarear mais e mais.
Muitas lacunas foram preenchidas e o melhor, o lema da médica era: menos remédios possíveis e mais profissionais envolvidos – psicólogo; psico-pedagogo; atividades ao ar livre; escolas voltadas para atendimento de crianças com TDAH e muito carinho, amor e atenção.
Este último não era tão difícil, já que, não só para ela, mas também para a minha filha mais velha, eu dedicava todo tempo oportuno.
Foi difícil? – FOIIII! –
Mas valeu todo o esforço, todas as horas, minutos, segundos, que precisei acordar bem cedo, para levá-la a cada um desses pofissionais e ir trabalhar. Voltava cansada a noite, fazíamos as tarefas da aula, colocava cada uma delas para dormir e, caía exausta na cama, sabendo que tudo se repetiria no dia seguinte. 
Hoje, minha filha está no 4° período de Direito. É claro, tem as suas dificuldades em se concentrar. Aprendeu,com a neurologista a usar canetas coloridas para cada assunto, a fim de fixar mais a sua atenção. Cada vez que ela percebe que está perdendo o foco do assunto nas aulas, muda a cor da caneta. Ajuda muita.
Eu não me arrependo de nada que fiz por ela e o resultado foi maravilhoso. Além do mais, esforçar-me em aprender sobre o TDAH, sobre as leis de amparo a portador de deficiências, já naquela época, resultou nesta menina feliz, dedicada a defender e se especializar em causas a favor dos PNEs.
Pais LUTEM pelo espaço de seus filhos portadores de TDAH e outras deficiências; DEFENDAM os seus direitos e; ENTENDAM o que é sofrer de cada um desses transtornos, pois não há como cobrar solução de algo que vocês não conhecem.
Felicidades a todos