Linguagem e TDAH

 

Atualmente sabemos que aquilo que denominamos  TDAH envolve diversos déficits em diferentes domínios cognitivos, não apenas na atenção. Os sintomas clássicos que definem o TDAH (desatenção, hiperatividade e impulsividade) seriam a ponta do iceberg para alguns pesquisadores.

Algumas das áreas comprometidas no TDAH (o resto do iceberg, portanto) envolvem a dificuldade em esperar por recompensas, a dificuldade em estimar intervalos de tempo, as dificuldades com memória operacional, diminuição da velocidade de processamento e grande variabilidade de respostas, dentre outros problemas. Nem toda pessoa que tem TDAH apresenta comprometimento em todas as áreas, a maioria apresenta apenas em algumas delas.

A linguagem também pode apresentar diferenças em quem tem o TDAH, mas estas diferenças podem não ser evidentes para quem não é especialista.

 Quando existem alterações importantes na linguagem oral, como dificuldades para se expressar de modo claro ou para compreender com facilidade o que é falado, dizemos que existem problemas em comorbidade (ou seja, em paralelo) ao TDAH. Estes problemas são o que chamamos de Transtornos de Linguagem e podem ou não existir em comorbidade com o TDAH.

As diferenças de linguagem encontradas no TDAH sem Transtorno de Linguagem são mais sutis e envolvem principalmente a organização do discurso e a coesão entre as partes daquilo que o indivíduo quer dizer.

 A pragmática da linguagem também está frequentemente deficitária. Pragmática é o uso da linguagem no nosso cotidiano: nós podemos nos comunicar mal mesmo quando não temos um problema primário de expressão ou de compreensão.

Neste sentido, a pessoa que tem TDAH pode não responder a uma pergunta que foi feita pelo interlocutor, pode interrompê-lo com muita frequência, falar simultaneamente a ele ou ainda ser pouco especifico, sem explicar melhor ou dar detalhes que permitam ser entendido.

Nosso grupo de pesquisa, liderado pelo Dr. Rafael Coelho, investiga o discurso de pessoas que tem TDAH utilizando uma tarefa que analisa o chamado Discurso Narrativo.

Este tipo de discurso, ao contrário do discurso espontâneo e o discurso meramente descritivo, requer que o indivíduo reconte um episódio respeitando as relações temporais, causais e espaciais que vão se desdobrando em cenários diferentes. No nosso caso, nós usamos uma história em quadrinhos e pedimos que o indivíduo (com e sem TDAH) descreva oralmente a história. O discurso é gravado e depois transcrito, para ser processado por um software.

Em breve teremos notícias sobre nossa pesquisa.

Paulo Mattos – MD, PhD, Postdoc, Presidente do Conselho Cientifico da ABDA, Coordenador do GEDA (Grupo de Estudos do Déficit de Atenção do Instituto de Psiquiatria da Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ), Coordenador da Disciplina de Psiquiatria e Saúde Mental da Faculdade de Medicina da UFRJ, Pesquisador do Instituto Dor de Pesquisa e Ensino,  Membro do Comitê Editorial das revistas Jornal Brasileiro de Psiquiatria, Revista de Psiquiatria Clínica e Journal of Attention Disorders.