Paulo Mattos 
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro 
Mestre e Doutor em Psiquiatria e Saúde Mental 
Pós-doutor em Bioquímica 
Presidente do Conselho Científico da ABDA  

 

O FDA – Food and Drug Administration, órgão regulatório Americano, aprovou em julho de 2013 um exame de eletroencefalograma para auxílio ao diagnóstico de TDAH. Esta aprovação gerou inúmeras manifestações por parte de pesquisadores não apenas americanos como de todo o mundo, a maioria delas contrária a esta aprovação.

Há muitos anos sabe-se que a existência de ondas lentas no eletroencefalograma (EEG) – chamadas de ondas teta e delta – são relativamente mais comuns em portadores de TDAH, porém isto não é obrigatório e também nunca havia sido proposto como teste diagnóstico. Achados de pesquisa não são necessariamente úteis para se fazer um diagnóstico, eles podem nos ajudar a entender melhor o que acontece com quem tem o problema.

Uma empresa privada resolveu fazer um aparelho de eletroencefalograma chamado NEBA System, que nada mais é que um EEG comum que fornece os valores de ondas teta e delta em termos numéricos e indica se estão acima do esperado.

É digno de nota que nenhum artigo científico foi publicado mostrando os resultados que a empresa enviou ao FDA, o que é bastante incomum. Normalmente, pesquisadores publicam os seus resultados para que os demais possam tomar conhecimento da metodologia empregada, da análise que foi realizada e das conclusões. Qualquer conhecimento científico, especialmente aqueles que dizem respeito à saúde humana, necessita ser verificado e confirmado; por este motivo toda e qualquer pesquisa sempre precisa ser publicada em revistas especializadas, após passar por uma análise rigorosa de revisores. E, após publicada, pesquisadores do mundo inteiro avaliam os resultados e procuram confirma-los ou refutá-los.

No caso em questão, os produtores do NEBA mostraram ao FDA que quando profissionais que não eram especialistas usavam os resultados do aparelho, os seus diagnósticos se tornavam mais parecidos com os dos especialistas (que não precisaram do aparelho para o diagnóstico). Ou seja, o NEBA melhoraria a qualidade do diagnóstico de TDAH em crianças e adolescentes quando ele é feito por não-especialistas. Por este motivo, a própria empresa fala em “auxílio ao diagnóstico” e não “diagnóstico”. Cabe ressaltar que foram comparadas crianças com um quadro bastante característico de TDAH com crianças normais; na prática clínica, um profissional em geral não tem dúvidas neste tipo de distinção – as dúvidas surgem justamente quando os casos não são característicos.

Embora pesquisadores de todo o mundo estejam investigando alterações em exames (os mais variados) de modo a aprimorar o diagnóstico de TDAH e de vários outros transtornos comportamentais, a impressão geral é que ainda não chegamos lá.

 
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