TDAH aumenta o risco de desenvolver demência?

Paulo Mattos

Ex-professor da UFRJ e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino

Membro da ABDA

Um estudo publicado em outubro de 2023 com mais de 100 mil adultos de uma associação israelense sem fins lucrativos, acompanhados desde 2003 até 2020 demonstrou que o TDAH está relacionado a um risco aumentado de desenvolver demência.

Demência é o quadro de declínio das funções mentais que compromete nossas atividades em nosso dia a dia (cuidar de si próprio, administrar as finanças, cuidar da casa, fazer compras, etc.). Em 2022, 6,5 milhões de indivíduos com 65 anos ou mais nos EUA tinham demência e este número tem a previsão de aumentar para 13,8 milhões até 2060. Atualmente sabemos que existem diversos fatores que aumentam o risco para desenvolver demência, desde hipertensão arterial (pressão alta) e diabetes até sedentarismo (pouca atividade física). Alguns estudos mostram que até 60% do risco de desenvolver demência está relacionado a fatores que podem ser modificados ou controlados. Os demais 40% estariam relacionados à nossa genética e, ao menos por enquanto, sem possibilidades de modificação.

Neste estudo publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA), foram levados em conta alguns fatores que poderiam dificultar a análise dos resultados, tais como doenças clínicas, por exemplo, que poderiam ser mais comuns no TDAH e também poderiam se correlacionar com a demência. O uso de estimulantes para tratar o TDAH também foi controlado matematicamente. Em pesquisas, fatores que podem alterar o resultado são chamados de “fatores de confundimento” e devem sempre ser controlados.

“Neutralizando” estes fatores, foi possível investigar se o TDAH por si só estaria relacionado a um risco aumentado. A partir daí, acompanhou-se os grupos “com TDAH” e “sem TDAH” ao longo dos anos. O estudo mostrou que o TDAH aumenta em mais de 2 vezes o risco para desenvolver demência. Existem, porém, vários fatores que ainda não são bem compreendidos.

Esta é uma das nossas linhas de pesquisa no Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino no Rio de Janeiro e já avaliamos dezenas de indivíduos desde 2022. A pesquisa irá acompanhar portadores adultos com TDAH, do Rio de Janeiro (com mais de 55 e menos de 75 anos) durante 2 anos, realizando consultas, exame neuropsicológico, ressonância magnética e exames laboratoriais. A pesquisa irá receber novos voluntários somente até os primeiros meses de 2024 e é gratuita.

Os interessados devem enviar e-mail para o endereço  neuropsicologia@idor.org